Estamos órfãos do incrível esporte bretão. Ninguém imaginaria que deixaríamos de jogar por tanto tempo, justo agora que muitos estão livres das tendinites, das dores no pescoço e nas costas. Lamentam-se os domingueiros. Para que o jejum não seja completo nos alimentamos de pratos congelados. Não que seja ruim rever as façanhas de Guga, do incrível Borg, do destemperado McEnroe e as dez melhores jogados de tantos talentos. Mas nada como o resultado imprevisível, a espera pelo encerramento de épicas batalhas. Saber o resultado diminui o gozo final, gosto de comida requentada. Enfim, é o que temos. A grama sagrada de Wimbledon talvez não seja pisada em 2020 e a volta ao circuito ATP permanece um enigma. Vocês conseguem imaginar Federer e Nadal jogarem sem público?
Os que competem se atormentam mais. Acompanho num grupo, meus parceiros cadeirantes e percebo a angústia do calendário desfeito, da programação interrompida, das viagens canceladas e do ranking estagnado. Alguns voltaram do exterior quando a Organização Mundial de Saúde declarou a pandemia, assustando o mundo ao sugerir o distanciamento social. Os poucos tenistas brasileiros que já tinham uma colocação internacional que lhes permitiriam participar das Paraolimpíadas de Tóquio tiveram o sonho interrompido. A transferência criou uma incógnita.
Ninguém é capaz de prever como será o novo normal em nossas vidas. Estamos nas mãos dos cientistas que buscam em tempo recorde uma medicação eficaz ou a vacina que nos trará o sossego. Até lá gastaremos 20 segundos para lavar as mãos, nos lambuzaremos de álcool em gel e esfregaremos água sanitária em tudo que chega da rua. Mascarados, continuaremos a circular pelas ruas, quando necessário. Além desses cuidados, precisamos preservar a mente. Exercícios, sol diariamente, alimentação saudável e manter a mente ocupada são quesitos para não enlouquecer.
E por que não jogar tênis? Porque o mundo em nossa volta parou a espera do pico da curva que não chega. Infelizmente, o aguardado achatamento se desfaz porque imbecis, sem necessidade, circulam estimulados por um presidente que não acredita na ciência. Deixem as ruas para os prestadores de serviço e para quem precisa buscar o seu sustento.
Enquanto pacientes esperam por um respirador, pessoas adormecem na porta da Caixa em busca de 600 reais, profissionais de saúde se arriscam ao usar equipamentos improvisados e voluntários distribuem quentinhas para os necessitados, fica difícil entrar em quadra e esquecer disso tudo, por mais que as raquetadas possam beneficiar nossa saúde.
Entretanto, assim que evolução da pandemia permitir, nos uniremos aos esforços de uma flexibilização da quarentena e aí sim estaremos prontos para pisar no saibro com os cuidados que a ciência nos impõe. Afinal de contas, o tênis é um dos poucos esportes que respeita o distanciamento social. Manteremos o hábito de higienizar as mãos, antes e depois do jogo. Ao entrar na quadra respeitaremos a distância de dois metros. O único contato será através da bola e para isso começaremos a jogar com bolas novas e não as pegaremos com as mãos. Usaremos os pés e a raquete para mandá-las para o sacador. Quem terminar de sacar, higienizará as bolas com álcool a 70 graus e passará para o próximo a sacar e assim sucessivamente. Entraremos na quadra mantendo a distância de 2 metros e não trocaremos de lado nos games ímpares. Evitaremos levar a mão ao rosto e não emprestaremos a raquete. Os próximos jogadores que entrarem na quadra só o farão quando ela já estiver desocupada.Limparemos todo o equipamento após o jogo. Se você for cadeirante preocupe-se em higienizar todas as rodas, não esqueça do anti-tip.
E assim será. Até lá vamos meditar, ler, deixar a TV para ver filmes e séries e menos notícias, conversar com amigos pelas plataformas existentes, arrumar gavetas e estantes. Fique em casa e programe mentalmente aquele drop-shot impecável e o voleio preciso. Ah, esses golpes pós pandemia serão inesquecíveis. Cuidem-se.