Por José Carlos Morais
Estamos órfãos do incrível esporte bretão. Ninguém imaginaria que deixaríamos de jogar por tanto tempo, justo agora que muitos estão livres das tendinites, das dores no pescoço e nas costas. Lamentam-se os domingueiros. Para que o jejum não seja completo nos alimentamos de pratos congelados. Não que seja ruim rever as façanhas de Guga, do incrível Borg, do destemperado McEnroe e as dez melhores jogados de tantos talentos. Mas nada como o resultado imprevisível, a espera pelo encerramento de épicas batalhas. Saber o resultado diminui o gozo final, gosto de comida requentada. Enfim, é o que temos. A grama sagrada de Wimbledon talvez não seja pisada em 2020 e a volta ao circuito ATP permanece um enigma. Vocês conseguem imaginar Federer e Nadal jogarem sem público?
Os que competem se atormentam mais. Acompanho num grupo, meus parceiros cadeirantes e percebo a angústia do calendário desfeito, da programação interrompida, das viagens canceladas e do ranking estagnado. Alguns voltaram do exterior quando a Organização Mundial de Saúde declarou a pandemia, assustando o mundo ao sugerir o distanciamento social. Os poucos tenistas brasileiros que já tinham uma colocação internacional que lhes permitiriam participar das Paraolimpíadas de Tóquio tiveram o sonho interrompido. A transferência criou uma incógnita.
Ninguém é capaz de prever como será o novo normal em nossas vidas. Estamos nas mãos dos cientistas que buscam em tempo recorde uma medicação eficaz ou a vacina que nos trará o sossego. Até lá gastaremos 20 segundos para lavar as mãos, nos lambuzaremos de álcool em gel e esfregaremos água sanitária em tudo que chega da rua. Mascarados, continuaremos a circular pelas ruas, quando necessário. Além desses cuidados, precisamos preservar a mente. Exercícios, sol diariamente, alimentação saudável e manter a mente ocupada são quesitos para não enlouquecer.
E por que não jogar tênis? Porque o mundo em nossa volta parou a espera do pico da curva que não chega. Infelizmente, o aguardado achatamento se desfaz porque imbecis, sem necessidade, circulam estimulados por um presidente que não acredita na ciência. Deixem as ruas para os prestadores de serviço e para quem precisa buscar o seu sustento.
Enquanto pacientes esperam por um respirador, pessoas adormecem na porta da Caixa em busca de 600 reais, profissionais de saúde se arriscam ao usar equipamentos improvisados e voluntários distribuem quentinhas para os necessitados, fica difícil entrar em quadra e esquecer disso tudo, por mais que as raquetadas possam beneficiar nossa saúde.
Entretanto, assim que evolução da pandemia permitir, nos uniremos aos esforços de uma flexibilização da quarentena e aí sim estaremos prontos para pisar no saibro com os cuidados que a ciência nos impõe. Afinal de contas, o tênis é um dos poucos esportes que respeita o distanciamento social. Manteremos o hábito de higienizar as mãos, antes e depois do jogo. Ao entrar na quadra respeitaremos a distância de dois metros. O único contato será através da bola e para isso começaremos a jogar com bolas novas e não as pegaremos com as mãos. Usaremos os pés e a raquete para mandá-las para o sacador. Quem terminar de sacar, higienizará as bolas com álcool a 70 graus e passará para o próximo a sacar e assim sucessivamente. Entraremos na quadra mantendo a distância de 2 metros e não trocaremos de lado nos games ímpares. Evitaremos levar a mão ao rosto e não emprestaremos a raquete. Os próximos jogadores que entrarem na quadra só o farão quando ela já estiver desocupada.Limparemos todo o equipamento após o jogo. Se você for cadeirante preocupe-se em higienizar todas as rodas, não esqueça do anti-tip.
E assim será. Até lá vamos meditar, ler, deixar a TV para ver filmes e séries e menos notícias, conversar com amigos pelas plataformas existentes, arrumar gavetas e estantes. Fique em casa e programe mentalmente aquele drop-shot impecável e o voleio preciso. Ah, esses golpes pós pandemia serão inesquecíveis. Cuidem-se.