Beth Caetano: Cite cinco coisas que você tem aprendido com a gravidez.
Valéria Aliprandi: A primeira é que não existem “situações ideais…” Para mim tem sido tudo bem diferente do que um dia imaginei. Não me deparei com nenhum “comercial de margarina”, tampouco, com aquele ideal de gravidez romantizada! Contudo, não atribuo isso à deficiência e, sim, às mudanças que chegam com a vida adulta. Idealizamos muito quando jovens ou em uma época qualquer da vida e hoje percebo diferente, bem mais “realista”. Acho que perceber as mudanças dessa forma deve me ajudar com a chegada do bebê.
Também, tenho aprendido o quão importante é filtrar as informações! Informações mudam com o tempo e precisam ser “recicladas”. Além disso, vejo como é importante buscar em fontes confiáveis, evitando informações de internet de forma indiscriminada… acho muito delicado. Como profissional da área de saúde já pensava assim e agora como mãe, tenho ainda mais convicção disso! Fujo de certos grupos e páginas de Facebook cheios de sensacionalismo e nenhuma informação. Acho que tive muita sorte por ter grandes amigas passando pela mesma fase que a minha. Ter pessoas de confiança com quem trocar, além dos profissionais de saúde que me acompanham, tem sido muito importante.
Minha terceira lição é que o mundo não para porque você está grávida. A dinâmica da vida continua, então, escutar que você não pode se preocupar com isso ou aquilo e que não deve ficar triste e preocupada com algo, não ajuda! Aprendi que é normal chorar, se sentir ansiosa e preocupada com tudo, ainda mais sendo mãe de primeiro filho!
Outra coisa é que mesmo que o início de uma gestação seja mais complicado com enjoos, sono, cabeça a mil… não devemos deixar para resolver pendências no final! Dentro do possível, o ideal seria reservar o último trimestre para tomar as providências para a chegada do bebê. Passa muito rápido!
Por último, para uma mulher cadeirante que planejava e desejava engravidar, na próxima troca de cadeira, eu deveria comprar uma com um pouquinho de folga no assento! Meu quadril alargou na gestação e minha cadeira ficou apertada…rsrs.
Beth Caetano: Quais as perguntas bobas que já fizeram para você?
Valéria Aliprandi: Incrivelmente, só escutei uma pergunta que considerei boba e inconveniente até agora. Como a minha barriga demorou a aparecer, ouvi de duas pessoas diferentes a pergunta: “você está mesmo grávida? ” e “você está grávida? Nem parece”! Escutar essas “impressões” no início da gestação pode deixar a mulher cheia de inseguranças nessa fase.
Também soube, através de amigos, que algumas pessoas ficaram espantadas ao saberem que estou grávida. Atualmente, esse tipo de questionamento não me incomoda mais. Consigo perceber como a falta de informação, ainda muito motivada pelo “mito” de que mulheres cadeirantes ou mulheres com deficiência não podem engravidar e/ou não tem uma vida sexual ativa.
Beth Caetano: Como foi ou está sendo reconhecer seu corpo como mãe?
Valéria Aliprandi: Já esperava que as questões físicas relativas a deficiência influenciariam no dia a dia da gravidez e tem sido muito bom ter consciência do corpo mudando e que uma coisa ou outra pode ser potencializada pela deficiência. Assim, a medida que as coisas acontecem, ir fazendo contato com tudo isso tem me ajudado a lidar com as dificuldades e procurar respostas e soluções!
Beth Caetano: Fale um pouco de suas expectativas.
Valéria Aliprandi: Estou evitando alimentá-las, tenho me esforçado para viver o momento, uma experiência de cada vez, mas elas chegam gerando ansiedade e um pouco de medo do que estar por vir. Contudo, agora com tudo se organizando para a chegada do bebê, estou mais tranquila, porém ainda com medos que considero normais para uma mãe de primeiro filho e cadeirante!
Beth Caetano: Qual o maior desafio você acha que terá em ser mãe com deficiência?
Valéria Aliprandi: Conciliar as limitações cotidianas com a rotina do bebê. Desde pequenas coisas, como a altura dos berços e banheiras disponíveis no mercado, passando pelas novas adaptações que o ambiente doméstico está recebendo para a chegada do bebê, até coisas maiores que fogem ao nosso “controle”, como a falta de acessibilidade da cidade para cadeiras de rodas versus carrinho de bebê.
Beth Caetano: Como foi a fase do enxoval?
Valéria Aliprandi: Precisei pensar muito em alguns pontos, como replanejamento dos quartos, melhor posição do berço, do banho e do armário do bebê para que eu possa circular com a cadeira e cuidar do meu pequeno com conforto e segurança para nós dois.
Beth Caetano: Quais os aplicativos que você mais tem usado nessa fase?
Valéria Aliprandi: Recebo os informativos do portal BabyCenter e gosto, mas como disse antes, acho que as informações de internet, até mesmo de aplicativos especializados como o BabyCenter precisam ser utilizados com cuidado quando se trata da busca de informações. Na prática, o app que mais tem me auxiliado a encontrar boas alternativas de compras e outros serviços que envolvem esse universo da maternidade tem sido o Instagram.