Texto de Keila Motta
Revisão de José Carlos Morais
Há dez anos trabalhando com pessoas com deficiência pude perceber certa confusão entre os significados de limitação e incapacidade em conversas com pessoas sem deficiência. Seriam sinônimos? Resolvi me debruçar sobre o tema.
E como primeiro passo fui ao dicionário e descobri que são muito diferentes.
Limitação – servir de limite, pôr limites a alguém ou alguma coisa, demarcar, restringir, moderar, aprazar, confinar. Incapacidade – falta de capacidade, inaptidão, inabilidade.
Na sequência quis entender de onde vem essa confusão. Sabemos que historicamente as pessoas com deficiência durante milhares de anos foram consideradas incapazes, a ponto de serem eliminadas assim que a deficiência fosse detectada. Até um passado bem recente em determinados povos isso ainda era praticado. E muitos relatos atuais, pelo desconhecimento, pessoas com deficiência são considerados incapacitados. Sem dúvida, essa expressão negativa carreada durante séculos estigmatizou esse grupo de indivíduos.
Mas, compreendi também que a maioria das vezes a incapacidade é o resultado da relação entre as deficiências e as barreiras impostas pelo meio em que vivemos. O exemplo do cadeirante e sua relação com a escada e com a porta estreita é clássico. O cego se tiver aplicativos para “traduzir” textos em computadores faz desaparecer a sua incapacidade.
Por isso, me animei muito ao estudar o Conceito de Desenho Universal. Seu objetivo é o de construir projetos, produtos e ambientes para serem usados por todos, na sua máxima extensão possível e sem necessidade de adaptação ou projeto especializado para pessoas com deficiência. Neste conceito fica claro que existe um abismo entre limitação e incapacidade, e que o ambiente interfere diretamente na inabilidade, ou não, das pessoas.
E a limitação?
Já a limitação é inerente ao indivíduo. Habilidades para o esporte, o didatismo ao expor um tema, entre tantos exemplos. Todos nós sabemos de nossos potenciais e limitações.
A deficiência, principalmente a física, pode transmitir uma limitação aparente, mas não pode ser considerada como barreira. Ela deve ser vista como mais uma característica da pessoa. Portanto vamos trocar a pergunta. Ao invés de nos perguntarmos, “o que está pessoa consegue fazer” para “que potenciais essa pessoa tem”?
Finalizo, ao chegar à conclusão que esse desentendimento entre limitação e incapacidade vem de outro tipo de barreira invisível, mas muito mais ofensiva e desumana, a barreira atitudinal. O comportamento em não dar oportunidade para pessoas com deficiência de mostrar suas capacidades é o pior do preconceito, é a absoluta discriminação com base em conceitos que deveriam ter ficado no passado.
Temos, portanto, um desafio. Contribuir para eliminar as barreiras físicas e de atitudes para que uma pessoa com deficiência seja capaz de desempenhar qualquer tarefa, aproveitar as oportunidades e, acima de tudo, usufruir da vida. Esse é o melhor dos mundos que imagino nos meus melhores sonhos.