Moda inclusiva busca criar roupas voltadas para necessidades específicas - Divulgação

Por Ana Paula Blower

Encontrar peças de roupas adaptadas para quem tem necessidades especiais não é tarefa fácil. Andréa Torquato, mãe de João Pedro, de 10 anos, sabe bem disso. Mas ela também sabe como é bom se deparar com uma marca que atenda ao gosto e à demanda do menino, que tem os movimentos restritos por conta de uma paralisia cerebral. Vestir um casaco não adaptado, por exemplo, representava sofrimento para mãe e filho.

— São pequenas adaptações que fazem uma diferença enorme no dia a dia. Ganhamos tempo e felicidade, porque é bom demais ter pessoas que pensam em você. E tem a questão da estética, que também é importante. Todo mundo quer ver seu filho bonito, independentemente da deficiência — diz Andréa.

Muitas vezes, abastecer o guarda-roupa para pessoas com alguma deficiência pode esbarrar em desafios como tamanho, conforto e funcionalidade. Diante disso, a moda inclusiva se torna determinante tanto em termos práticos, na rotina, quanto na autoestima.

Moda inclusiva 5 - Divulgação

Em situações em que a pessoa passa muito tempo sentada na cadeira de rodas, por exemplo, detalhes não considerados pelo mercado tradicional, como o excesso de pano atrás do joelho ou a costura de um bolso, podem machucar. Há ainda outras questões levadas em conta pela moda inclusiva, como qual fecho e tecido usar.

Tanto Andréa como estilistas que têm seu foco em peças adaptadas ressaltam que ainda é difícil encontrar iniciativas neste segmento, assim como grandes marcas ainda não têm tal preocupação.

— Queria que isso (a moda inclusiva) se espalhasse pelo mercado. Existe uma demanda grande — afirma Andréa.

Percebendo essas dificuldades e com uma sensibilidade especial para o assunto, a estilista Silvana Louro começou uma pesquisa em instituições que durou cerca de três anos e deu origem à sua marca, a “Equal — Moda inclusiva”. No mercado há quatro anos, ela fornece não só roupas mais funcionais que podem atender às necessidades de cada um, mas com estilo e leveza.

— Passei muito tempo fazendo roupas e dando para as pessoas experimentarem, recebendo feedback — lembra. — Cerca de 6,2% da população tem alguma deficiência, e isso por si só já justifica um investimento. Pessoas com deficiência ainda são invisíveis em áreas de moda e beleza.

Ela conta que busca, em cada peça de suas coleções, contemplar o máximo de possibilidades. Em uma calça comprida para amputados, por exemplo, em vez de colocar um tamanho de zíper para cada tamanho de prótese, prefere um inteiro, que atenda a todos.

— Patenteei uma modelagem para quem nunca vai ficar de pé. Ela precisa de um cós atrás mais alto, sem bolsos ou excesso de tecido — explica a estilista, que lembra outra adaptação: — Coloco ainda aberturas para facilitar o vestir de pessoas com paralisia cerebral e fechos mais funcionais.

Vendendo suas peças através do e-commerce, a marca oferece também etiqueta em braile (para quem solicitar na compra), que contém informações como tamanho e modo de lavar.

Excesso de tecido atrás do joelho ou costura grossa de mais nos bolsos podem incomodar, por exemplo - Divulgação

Unindo forças

É comum que, dentro de determinados setores de mercado, os produtores se conheçam bem. Na moda inclusiva não é diferente, mas tem um detalhe importante: estilistas costumam se unir para potencializar a produção.

— Sempre busquei outras pessoas que trabalham com moda inclusiva. É importante a gente se fortalecer. Ninguém cria nada sozinho. Ainda há muito trabalho a fazer — ressalta Silvana.

E já há uma nova geração envolvida nessa questão, como a estilista Denise Gonçalves, cuja relação com a inclusão vem antes até da faculdade. Seu irmão era cadeirante, e ela convivia com os desafios enfrentados por ele para se vestir.

Pensando nisso, no fim da graduação em Belas Artes, resolveu fazer como trabalho de conclusão de curso uma coleção com peças que unissem a linguagem da moda com funcionalidade.

— Queria fazer algo além do glamour e da moda e pensei numa homenagem ao meu irmão. Quis criar uma marca que todos usassem, com roupas que eu usaria e são tendência — conta Denise, que hoje participa de concursos e feiras de moda inclusiva com sua marca, “Livanz”.

Nessa ainda recente trajetória — ela se formou em junho — conta que já se deparou com muitas pessoas que não entendiam por que ela estava se dedicando à moda inclusiva. Mas Denise não liga e diz se sentir orgulhosa em ver a felicidade das clientes que se dizem representadas.

Durante sua pesquisa, entrevistou muitas meninas para entender quais seriam os melhores tecidos, modelagens que não esquentassem ou machucassem a pele. Há ainda outro ponto interessante de seu processo criativo.

— Meu irmão gostava de camisas estampadas, estilo anos 1980. E o estilo tinha que ser o dele. Por isso essas estampas geométricas e coloridas.

Fonte: O Globo.




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