Em tempos de quarentena, festejo cada dia a decisão de termos construído a nossa casa. No condomínio onde moramos há 30 anos é proibido construir muros ao redor do terreno. São as cercas vivas que nos separam dos vizinhos. Isso desperta uma leveza ao ambiente e provoca uma sintonia com a natureza surpreendente. Esse foi um dos motivos do porquê optamos por viver no Engenho do Mato. Margeado pela Serra da Tiririca, pássaros em profusão nos visitam. Também micos e gambás. Ouriços e lagartos despontam ao lado de raras jiboias. O casal de tucanos faz do seu voo linear uma beleza ímpar. O canto dos quero-queros anuncia o novo ciclo de reprodução. O silêncio é nosso companheiro. Prezo cada momento. Nesse instante a chuva traz para o escritório o aroma único da grama molhada. Perfume inigualável. Com certeza Chanel já planejou colocar esse olfato em pequenos frascos. Minha visão se perde no verde. Nem todos tem esse privilégio. A grande maioria vive em um mar de concreto, onde muros limitam espaços. Como se não bastassem os muros virtuais que isolam ideias, pessoas e valores. O muro da incompreensão, onde atitudes equivocadas com base na ignorância dizimam vidas. Mortes desnecessárias. Até quando?