Na minha janela tem uma amendoeira, ou melhor, se considerarmos o meu endereço e CEP, é mais apropriado dizer que na enorme amendoeira de 15 metros tem uma janela. Por ela, já às cinco da manhã – horário de verão, mas ainda primavera – entram todos os sons do dia. Não só por serem tão diferentes dos sons noturnos, eles anunciam com uma precisão que apenas a rotina traz, que começa tudo outra vez.
Considero um imenso privilégio poder escutar da maneira que posso, sem alcançar com a visão, e dar substantivos a esses sons, depois passo a classificá-los por preferência ou atenção e interesse.
É tão claro que os ninhos instalados na enorme amendoeira criaram sua própria rotina urbana e adaptados vāo com seus piados, definindo gradativamente a minha escolha: posso decidir apreender a vibração do meu prédio e da minha janela ao passar um caminhão, imaginar se o bombeiro vai salvar um gato ou sentir o calor do fogo.
E nessa estranha música uniforme, resolvo tentar me deliciar com o ainda tímido som daquele que esperançosamente acredito ser o filhotinho do casal de gavião, que mais velho em um sobrevoo observa e determina sua caça, apenas pela sobrevivência.
Ninhos são lugares de aconchego; recarregar e partir para outros velhos e novos voos, sempre na tentativa de fazer diferente de uma bomba ou de um caça pronto para o ataque, por isso, não vejo mais tantas notícias como via antes. Escolhi ficar bem mais silenciosa e atenta ao substantivo tão adjetivo verbo do cantar.
Que sobrevivam as amendoeiras e seus ninhos, enquanto eu ainda souber cantar. PAZ!!!!
Por Beth Caetano