Nas vivências do curso, dentre inúmeros aprendizados valiosos, comecei a compreender meu “novo corpo”, através de outro prisma, não mais como pessoa que deve ser cuidada, segundo a vontade do outro – estigma que o cadeirante traz consigo – mas, entendi que a pessoa com LM pode assumir seu corpo, seus desejos, sua autonomia, mesmo que eventualmente, sempre ou quase sempre (a freqüência é o que menos importa!) a pessoa com LM precise das mãos de uma outra pessoa, na figura de um familiar, amigo ou assistente pessoal. Foi por aí que comecei a pensar de forma profunda em todo o processo histórico-social do Movimento de Vida Independente.
Nesta mesma época, no decorrer do curso, comecei a observar cadeiras de rodas com modelos diferentes da minha… Era uma “recém-nascida de LM” e, como disse, começava ali meu verdadeiro processo de entendimento sobre tudo que estava acontecendo comigo, e ali também, dei início ao meu fortalecimento para os desafios que viriam a se apresentar: um deles foi assumir que estava pessimamente sentada em uma cadeira onde “se enxergava primeiro a cadeira para depois enxergar a Valéria”! E foi assim, através do serviço de Adequação Postural que adquiri uma cadeira nova e linda, que me agradava, onde eu me sentia segura em vários sentidos, que voltei a me olhar de verdade no espelho! Pouco tempo depois, percebi que estar sentada adequadamente, no equipamento correto para o meu biotipo ia muito além da estética e autoestima. Os riscos de uma lesão postural secundária, de uma lesão de pele, de dores musculares e até mesmo neuropáticas diminuíram muito! Ou seja, me adequar na cadeira de rodas significou qualidade de vida!
Daí em diante, nunca perdi contato com o CVI-Rio, lá aprendi muito, fiz amigos e ganhei referências para diversos assuntos profissionais ou pessoais. Para mim, o CVI-Rio sempre foi muito além do que uma “instituição que presta serviços às pessoas com deficiência”, é um lugar de acolhimento, onde criei vínculos de confiança e pude recorrer em momentos de incertezas. Francas e agradáveis conversas, me ofereceram o amparo necessário, na medida necessária, no momento necessário. Este acolhimento encontrei e continuo encontrando no serviço de Suporte entre Pares, através da troca de experiências, aceitando e entendendo as diferenças e questões que “Ser uma Pessoa com Deficiência” pode nos apresentar.