A maioria das crianças com Transtorno do Espectro Autista (T.E.A) prefere ficar no mesmo cômodo em que está seu cuidador principal. Se a mãe ou o pai vai para outro lugar, a criança geralmente a segue em poucos segundos. Se o irmão ou a irmã está sentado no chão brincando com objetos, a criança com T.E.A talvez se sente distante e se ocupe da mesma brincadeira, mas pareça desinteressada do que o irmão ou a irmã está fazendo. Se o irmão ri ou emite um som em comum, a criança talvez olhe para ver o que está acontecendo, mas logo volta para a brincadeira solitária
O problema é que a criança com T.E,A não tem consciência dos sinais sociais nem as habilidades necessárias para estabelecer e manter interações sociais. Nossa tarefa como adultos afetuosos é aproveitar os interesses dela para ensinar as habilidades necessárias para que ela possa interagir de maneira significativa com familiares e colegas e desenvolver relacionamentos com eles.
A observação do outro
Para as crianças com T.E.A, observar outra criança brincando é como tentar entender o comportamento de um ser de outro planeta. As crianças dentro do espectro geralmente são fascinadss pelas atividades de seus pares, mas não tem a menor ideia do que fazer com elas. Mais ou menos aos três anos, praticamente todas as crianças já fazem brincadeiras paralelas: elas se sentam no chão, constroem com blocos de montar ou brincam com bonecos prestando um mínimo de atenção na criança que está ao lado. Geralmente conversam consigo mesmas descrevendo as próprias ações ou fazendo a voz do personagem com qual estejam brincando, como a boneca mãe, por exemplo. Entre os três e os quatro anos, geralmente começam a se interessar pelo que as outras estão fazendo e tentam envolver outra criança na brincadeira, isso raramente acontece com crianças com T.E.A. Muitos pré-escolares com autismo continuam a demonstrar interesse limitado em brincadeiras interativas, e quando tentam interagir, a abordagem é frequentemente imprópria e rejeitada pelos colegas.
Demonstrações de afeto inadequados
Davi, de quatro anos, passa três tardes por semana numa pré-escola regular. Ele tem autismo, alto nível funcional e passou por dois anos de terapia comportamental intensiva precoce em casa. Tem um vocabulário verbal significativo, funciona bem na maioria das situações cotidianas e raramente tem acessos de raiva, mas não tem compreensão social.
Fica de pé observando atentamente duas outras crianças brincarem. Parece querer se juntar a elas, mas não sabe o que fazer. Aproxima-se de Gina, uma menina de 3 anos de sua turma e coloca o carrinho de brinquedo que está segurando no alto da cabeça dela. Ela se afasta e diz: NÃO. O carrinho cai no chão fazendo barulho, Davi se afasta com uma expressão confusa no rosto e começa a chorar. Sua demonstração de afeto inadequado vai fazer com que Gina provavelmente, não queira brincar com ele no futuro, e esse insucesso vai desestimulá-lo tentar outra vez.
Atenção compartilhada, imitação e apresentação oral
Aprender a observar o que os outros estão fazendo e imitá-los é uma das primeiras etapas do processo de socialização de pré-escolares. Aprender a olhar para o outro e a se concentrar nos olhos dele indica que a criança está prestando atenção na outra pessoa.
É provável que as demais crianças aceitem um colega com autismo em suas brincadeiras se ele se envolver na mesma atividade em que os amiguinhos estão envolvidos ou em uma atividade semelhante. Observar os outros faz parte do processo de se interessar por eles. A atenção compartilhada diz respeito a prestar atenção no mesmo estímulo em que a outra pessoa está prestando: um passarinho voando do lado de fora, a bola quicando pela sala ou atividade que outra criança realiza, se Davi mostrar para as outras crianças que está interessado nelas. É mais provável que elas brinquem com ele.
A professora pode se sentar no chão com Davi e deslizar um caminhãozinho de brinquedo sobre o tapete, para frente e para trás, dizendo: vamos brincar de carrinho? Depois de observar um pouco, Davi começa a empurrar sobre o tapete, para frente e para trás, o carrinho que estava segurando. “Muito bem, Davi!”, pode dizer a professora, acrescentando: estamos brincando de carrinho.
Mais tarde, a professora pode falar para Davi: “a Beth está brincando de boneca, olha! Ela está ninando o bebê”. Davi observa Beth atentamente, mas não sabe o que fazer. Nesse momento, a professora pode dar outra boneca para Davi e dizer apontando para Beth: “Davi, brinque de boneca com a Beth”. Davi se aproxima de Beth, se senta no chão ao lado dela e começa a ninar a boneca que está segurando de modo semelhante ao de Beth.
Estimular as crianças com T.E.A a observar primeiro, e em seguida, indicar por meio das próprias ações que estão interessadas no que as outras estão fazendo, imitando-as, ajuda quem tem autismo nos primeiros passos da socialização.
Fonte: Conversa Franca sobre Autismo – Guia para pais e educadores
#Pratodosverem_ quadrado com fundo ao fundo de uma mulher de cabelos longos pretos, blusa de mangas compridas verde, com duas crianças: Uma menina de cabelos pretos longos com um arco azul na cabeça, vestido azul-escuro, manuseando uma peça de montar. Do lado esquerdo da mulher, tem um menino de cabelos enrolados no ombro na cor castanho fixado na montagem de uma torre com peças de madeira. A imagem sugere ser uma professora com dois alunos. Do lado esquerdo na parte inferior do post, tem uma tarja laranja transparente com o título da matéria. Estímulos para socialização. O que os professores podem fazer? Ass.: Keila Motta. Fim da descrição.