A coragem de um dia de cada vez. Aí é que está. Desisti daquela mão medrosa de frio, diante do insistente despertador do celular que, é óbvio, ignora as baixas temperaturas das primeiras horas matinais. Acabo por perder a hora pro sono preguiçoso, que, destemperado, parece perder a memoria do dia. Vamos embora! Vamos trabalhar!
Nesse momento, é necessário esquecer que a tetraplegia realmente nos coloca em desvantagem diante das pessoas que não contam com nenhuma desregulamentação térmica tão significativa, e perante dores crônicas vindas de algumas artroses, que só pioram ao enfrentarem este clima tão estranho para qualquer carioca. Definitivamente, não gostamos de dias nublados, principalmente quando vêm acompanhados de congelantes momentos, logo pela manhã. Na verdade, não deixaremos de ver as pessoas correndo na Lagoa ou por toda a Orla. Carioca parece que se sente na obrigação de bater ponto nas calçadas da praia. Seja correndo, andando de skate, de bike, de patins, o jeito é ter a esperança e ir ao encontro do tímido sol que hoje, parece, tentou sair em alguns momentos e dar o ar da graça.
Cá estou eu no trabalho, tentando viver um dia de cada vez, como uma cebola, cheia de roupas, me fazendo aquecer de todas as maneiras possíveis. Afinal, todo tetraplégico, mesmo os das regiões mais frias, não fica bem em baixas temperaturas, como essas que até agora mostram que realmente existe inverno, até na região sudeste.
E assim vou vivendo, um dia de cada vez, na expectativa que um sol menos tímido apareça para nos esquentar os ossos e diminuir um pouco as dores. Não tá brinquedo não! Chego a sonhar acordada, que estou parada no calçadão sentindo o sol através das roupas para aquecer a pele e respirar aquele cheirinho de maresia tão carioca.
AÍ… Faltam tão poucas semanas para a primavera, e eu aqui divagando, já esperando ansiosa por nosso verão.
Bora! Um dia de cada vez! Mas não tá sendo fácil!
Por Beth Caetano