Em 2003, só 29% das crianças com deficiência estavam em salas de aulas comuns. Esse número subiu para 79% em 2014.
Quase 700 mil crianças brasileiras com alguma deficiência estão hoje em escolas comuns. Isso significa que todos os alunos estudam juntos e com o mesmo currículo. A educação inclusiva é o tema de uma série especial de reportagens de Sandra Passarinho, que o Jornal Nacional apresenta a partir desta segunda-feira (23).
Numa visita a uma escola inclusiva pela primeira vez, a equipe do Jornal Nacional aprendeu logo uma lição de afeto: um abraço. Isabelle tem um jeito para dizer que a equipe é bem-vinda, e outras crianças também querem dizer: “Estamos aqui!”
O afeto é uma disciplina de apoio para transformar a escola num espaço para todos. E, num ambiente assim, os adultos ensinam algumas coisas e aprendem outras, que não estão nos livros.
“Todo mundo aqui é ímpar. Então, todo mundo tem que se adaptar a todo mundo. Esse é o nosso mundo, a nossa sociedade”, afirma Antônio Carlos Souza, professor de educação física.
“Ela não é uma pessoa diferente, ela é o mesmo que nós, só tem uma deficiência que tem muita gente no país que tem. É humano. Todo mundo é igual”, defende um colega da Isabelle.
A educação inclusiva começa em casa, quando os pais se convencem que é preciso criar os filhos para a vida, e não mantê-los isolados por que têm uma deficiência. A escola comum é um ponto de partida para a criança crescer como qualquer outra e ter possibilidade de obter ganhos em sala de aula.
Pedrinho, de 8 anos, tem uma síndrome rara. Não fala, anda com dificuldades, mas se interessa pelo que está em volta. O comportamento dele melhorou depois que a mãe batalhou pra conseguir matricular o garoto numa escola municipal na Zona Sul do Rio, há poucos meses.
“Ele está me mostrando que ele quer isso, que ele quer ir pra rua, que ele quer explorar, que ele quer ir pro mundo, digamos assim. Ele era uma criança que eu o subestimava e eu não queria muito isso pra ele, porque sabia que ia encontrar alguma dificuldades. E aí vi que a escola é importante pra ele”, conta Sheila Velloso, mãe do Pedrinho.
Sheila fez até um abaixo assinado na internet para conseguir uma escola pública que tivesse um mediador para o filho, alguém para ficar com Pedrinho na sala de aula.
Nas escolas inclusivas, os alunos com deficiência têm o mesmo currículo do resto da turma. E o mediador, ou assistente, ajuda a criança com necessidades especiais nas tarefas escolares.
Na última década, os números da inclusão se multiplicaram. Em 2003, só 29% das crianças com deficiência estavam em salas de aulas comuns. Esse número subiu para 79% em 2014. A grande maioria desses alunos estuda em escolas públicas.
E os casos de sucesso estão aparecendo. Isabelle, de 9 anos, com Síndrome de Down, já reconhece os números, faz pequenas contas, escreve e lê palavras simples.
“Acho que eles são uma caixinha de surpresas. Às vezes, você acha que não está fazendo nada e quando você olha, a criança já está fazendo coisas”, diz Soraya Sena, professora.
Andrea assiste ao desabrochar do filho numa escola municipal do Rio. Miguel, de 9 anos, é autista. Tem dificuldade de se comunicar e socializar.
“Nas duas escolas particulares que ele estudou, elas tinham uma vontade de ser inclusivas, mas elas não tinham a infraestrutura para isso, e não se propunham a ter. Eram só promessas. Miguel não conseguia ler, Miguel veio para cá e mal sabia escrever o nome dele todo e ele veio pra cá tem dois anos. Ele agora lê, escreve redação. Sabe o nome dele todo”, lamentou a mãe do Miguel, Andréa Barbosa de Oliveira.
“Todo mundo tem condição de se desenvolver integralmente, mas em medidas, as mais diferentes possíveis. Desafiar, sempre, para que essa capacidade se amplie”, afirma Maria Teresa Mantoan, professora.
Dandara está chegando lá, na escola onde as crianças aprendem que podem ser exatamente o que são e isso é motivo de festa.
Fonte: Jornal Nacional.