Não sei para aonde vai o mundo, do jeito que as coisas caminham. Existe uma verdadeira banalização de valores, onde a violência é o carro chefe de nosso dia a dia.
É só entrarmos em contato com a primeira página dos jornais diários e o que vemos, é praticamente uma apologia ao terror.
Como o ser humano conseguiu chegar a este patamar de degradação social tão imensamente significativo?
Até mesmo as crianças mais novinhas já têm consciência do fato de que nosso cotidiano é cercado de violência. E nós adultos temos medo de qual mundo deixar para nossos filhos e netos. É triste, é muito triste. Estamos meio que num caminho sem volta, onde não conseguimos ver nenhuma luz no fim do túnel. Por exemplo:
Quando fazem entrevistas, reportagens sobre a cracolândia, percebo o quanto o número de dependentes tem aumentado. A droga tem uma ligação com afeto. Desde o alimento que nos chega através do cordão que nos liga à mãe, o significante valor do afeto está ligado àquilo que nos nutre. Tentamos sempre suprir qualquer falta de afeto por um desejo muitas vezes insaciável de preenchermos espaços vazios em nós.
Uso a cracolândia como exemplo por ser o crack um tipo de droga que age muito rápido e marginaliza muito, mostrando um pouco do retrato de nossa sociedade atual.
Convém lembrar que a questão da droga perspassa o segmento das pessoas com deficiência, constituindo-se como esse “outro”, além dos demais segmentos sociais.
Acredito que a falta de amor de uns pelos outros venha trazendo essa realidade tão cruel, que é a do abandono. Precisamos com urgência olhar com afeto para cada um de nós, começando primeiro por nós mesmos e depois pelo outro.
É necessário nos afetarmos pela condição humana que a cada dia que passa se torna mais e mais precária e carente. Se dedicarmos um mínimo de atenção ao outro, com certeza fará diferença no final das contas.
Sei que pode parecer alarmante, mas não é. O mundo está tomado por ilhas de cracolândias, onde aquele que mais sai perdendo não é apenas o usuário desta droga tão perigosa, mas também quem pensa estar de fora e não se abala, não se afeta com a solidão do outro.
Precisamos investir no tratamento e na modificação de qualquer tipo de compulsão, seja ela qual for, mesmo a mais inofensiva – como gostar de chocolate -, em doação de nosso interesse e preocupação com o ser humano.
Devemos acreditar que realmente podemos fazer a diferença, que definitivamente somos agentes de uma transformação que vai trazer mais união e compreensão para nosso momento atual.
Por Beth Caetano