O tênis em cadeira de rodas surge em 1977, quando o cadeirante californiano Brad Parks teve a percepção que se a bola quicasse duas vezes, haveria tempo de alcançá-la. Uma simples mudança na regra, aliás a única, o segundo quique, mesmo que seja fora da quadra. Dez anos depois da criativa regra, encontrei-me com Brad, ele número um do ranking americano, no encontro Brasil/Estados Unidos pela Word Team Cup, o meu primeiro mundial, a Taça Davis dos cadeirantes. Estávamos na quadra central e depois do jogo perguntei a ele: “Você imaginava que um quique a mais poderia mudar a vida de tanta gente”? Ele, simplesmente, sorriu.

Zé Carlos em ação dando suas primeiras raquetadas em Stoke Mandeville, EUA, em 1985

No mesmo local onde quarenta anos antes o visionário médico alemão Ludwig Gutmann colocava seus pacientes, mutilados da Segunda Grande Guerra, em atividades esportivas, no Centro de Reabilitação Stoke Mandeville, eu conhecia o texano Randy Snow. Cadeirante, como eu, aproveitou aquele mundaréu de atletas com deficiência para divulgar a grande novidade, o tênis em cadeira de rodas. Eu estava lá pelo time de basquete brasileiro e ele como corredor de 800 metros pela equipe americana. Ao ler o cartaz – Wheelchair Tennis, by Randy Snow – dia tal, hora tal, fiquei entorpecido. Não acredito! No dia e hora determinados, eu presenciava aquele histórico acontecimento. Terminada a demonstração, convidou os cadeirantes que assistiam a experimentar o novo esporte.

Zé Carlos (à esq.) e Brad Parks, respectivamente precursores do tênis em cadeira de rodas no Brasil e no mundo

Ansioso, fui dos primeiros. Apresentações feitas, posicionei minha cadeira no meio da quadra e fizemos o apelidado “quadradinho”. Alguns minutos depois, já no fundo da quadra consegui dar boas raquetadas. Concluído o bate-bola, me chamou à rede e perguntou: “Há quanto tempo você joga tênis em cadeira de rodas?” “Há cinco minutos”, respondi. Ele riu com minha resposta. Nesse papo rápido, ficou sabendo que eu jogava basquete, me orientou a comprar uma cadeira mais adequada e, praticamente, fui intimado a praticar o tênis. Retornei com uma ideia na bagagem e assim implantamos, Celso Lima e eu, o tênis em cadeira de rodas no Brasil em 1985.

(*) José Carlos Morais é coordenador da Escola de Tênis “Cadeiras na Quadra” e  presidente do Centro de Vida Independente do Rio de Janeiro (CVI-Rio).




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