Cumplicidade e confiança são fundamentais entre atletas e guias Paralímpicos. Terezinha Guilhermina, com seis medalhas Paralímpicas, e Guilherme correrão no Mundial de atletismo de Doha, que começa na quinta-feira
A relação entre atletas com deficiência visual e seus guias, nas competições Paralímpicas, na maior parte das vezes extrapola para a amizade fora das pistas, que rendem até dupla “sertaneja/gospel”, como no caso de Carlos Antônio dos Santos, o “Bira”, que leva Odair Ferreira dos Santos nas provas de 1.500m, 5.000m e 10.000m. Rende também lições de vida e mais motivação para a própria carreira de atleta convencional, como é o caso de Edson Luiz de Rezende, que pilota a bicicleta onde vai Luciano da Rosa, hoje “um irmão”. O guia Guilherme Soares de Santana e a velocista Terezinha Guilhermina se declaram “cúmplices”.
Várias dessas duplas do atletismo Paralímpico estarão no Mundial de Doha, no Catar, que tem cerimônia de abertura nesta quarta-feira (21) e as primeiras provas no dia seguinte (22). O evento vai até o dia 31 de outubro.
Para os três guias, a carreira no esporte Paralímpico começou por acaso. O falante Guilherme, 32 anos, é guia de Terezinha desde 2010, quando apareceu no lugar certo e na hora certa na pista de Maringá e foi convidado. “Resolvi experimentar. Ela precisava e eu estava disposto. Fizemos um treino e já viajamos para São Paulo, para uma prova de 400m. O guia tem de ficar um pouco atrás, na corrida. Tem de se adaptar ao atleta, ao ritmo dele. Por isso, é o guia que se machuca mais”, conta.
Corrida “com a mão colada”
Para Terezinha, da classe T11 (deficientes visuais), os dois formam um time, com 50% de cada um. Guilherme diz que ele só direciona e, por isso, considera sua participação em 10%. Na pista, é bem mais lacônico do que fora dela: se utiliza apenas de comandos como “Curva!”, “Reta!” e “Tronco!”, para a linha de chegada.
Os dois correm unidos nos pulsos (esquerdo dela, direito dele), “com a mão colada” por uma fita de velcro, o que é melhor para provas de velocidade, segundo Guilherme, para não perder a coordenação de braços e pernas. “Gosto muito de ser guia. Estamos sempre junto, viramos amigos, cúmplices. A gente briga também, mas se diverte”.
Com treinos entre três e seis horas por dia com o técnico Amauri Veríssimo, a velocista Terezinha corre 100m, 200m e 400m e diz que Guilherme se tornou um guia perfeito porque é “invisível”. “Corro como se estivesse no piloto automático. Eu digo que somos um time. Não é uma prova individual – é coletiva. O Guilherme é extremamente engraçado, extrovertido, e se tornou um grande amigo”, conta Terezinha, que já teve Usain Bolt como seu guia.
A velocista tem seis medalhas em Jogos Paralímpicos: ouro nos 200m de Pequim 2008; ouro nos 100m e nos 200m de Londres 2012; prata nos 100m de Pequim 2008; bronze nos 400m de Atenas 2004 e nos 400m de Pequim 2008. Terezinha diz que, para o Mundial de Doha, a “ordem” para ela e Guilherme é: “Vamos em frente, sempre mais rápido e mais colorido!”.
Fonte: Rio 2016.