criança isoladaPor Keila Motta

Uma conceituada psicóloga do desenvolvimento chamada Sandra Scarr, escreveu certa vez: “a maioria dos pais consegue criar um relacionamento seguro com um bebê calmo, agradável e paciente. Somente pais especialmente sensíveis e pacientes conseguem estabelecer um vínculo seguro com um bebê difícil”.

Poucas crianças pequenas são mais difíceis para os pais dos que as que têm TEA. Geralmente, os pais de crianças com TEA acham difícil estabelecer um relacionamento seguro com elas, porque dependendo do “grau” do autismo, essas crianças não reagem como as outras ao carinho e aos afagos.

Muitas delas parecem ignorar os abraços da mãe e podem empurrar ou dar as costas, e até bater quando são pegas no colo. Grande parte do esforço para estabelecer um relacionamento seguro e positivo com uma criança que tenha TEA depende de uma paciência infinita e de um trabalho incansável para desenvolver a criança.

 

A base do relacionamento

Para todo e qualquer relacionamento, acreditar em outra pessoa significa ter confiança nela, contar com ela e depender dela. A confiança é mais do que ter sentimentos de afeição por outra pessoa. Confiamos que os outros farão o que dizem que vão fazer, ou seja, que são pessoas confiáveis.

Também, confiamos nos outros quando, baseados em nossas marcas, crenças e experiências, aprendemos que eles não farão nada que nos machuque, nos cause angústia ou algum mal desnecessário e que podemos depender deles para nos ajudar quando precisamos.

Na forma mais extremada de falta de confiança, uma criança pequena de desenvolvimento “normal” que tenha sido agredida com frequência, ama os pais, mas não confia neles. Na verdade, na maior parte do tempo, essa criança vive amedrontada.

A confiança tem um componente cognitivo e comportamental, além do aspecto emocional. Alguns pais se comportam de maneira amorosa e tranquilizadora em relação ao filho na maior parte do tempo, supondo que consigam estabelecer uma relação de confiança.

No entanto, em outros momentos, gritam com o filho que tem TEA nos momentos em que este tem acessos de raiva, batem nele quando se comporta mal e saem furiosos gritando com o esposo ou a esposa: “você cuida dele!”

Pode ser que beijem e abracem o filho, o segurem no colo e digam coisas positivas quando tudo está bem, o que é maravilhoso e adequado, mas essas coisas não são o mesmo que ajudar uma criança a aprender que os pais são dignos de confiança. Ser alguém em quem se possa confiar implica, além de ser digno de confiança, evitar a exposição do filho a incertezas e sofrimento desnecessários.

As crianças com TEA têm problemas com a confiança porque são especialmente suscetíveis ao medo e porque seu mundo geralmente lhes parece imprevisível, muitas vezes, um caos total.

Elas frequentemente não conseguem interpretar o significado do comportamento e das ações dos outros, o que significa que têm poucas maneiras de saber o que os pais ou outros adultos estão fazendo que possa levá-las a uma situação da qual tenham medo.

A criança vê os pais fazendo algo diferente do habitual e se pergunta: “o que vai acontecer depois?” A intolerância da criança à mudança gira em torno da incapacidade limitada dela para compreender as sequências de eventos.

Mudanças pequenas no comportamento de um adulto cuidador podem parecer situações novas e potencialmente ameaçadoras para uma criança com TEA. As crianças com TEA dependem dos pais e de outros cuidadores adultos para estruturar o mundo delas, a fim de que ele seja seguro e previsível.

 

Estrutura e confiança

Medidas de reforço podem ser muito úteis para crianças com TEA no estabelecimento da confiança, pois, proporcionam indicações facilmente compreensíveis que ajudam a estruturar o mundo desses indivíduos. Isso significa que valorizar pequenas conquistas do seu filho pode criar um laço de confiança consistente entre vocês.

Quando os pais elogiam de imediato um filho com TEA por usar a colher e não os dedos, é criada uma estrutura explícita que a criança compreende. Oferecer sinais ambíguos, inconsistentes e difíceis de entender faz o inverso, criando incerteza e ansiedade. Lembre-se que crianças com TEA não entendem colocações que tenham duplo sentido.

As crianças com TEA se desenvolvem bem em ambientes estruturados. Estrutura significa rotinas previsíveis que envolvam pessoas, lugares e atividades. A estrutura informa à criança quando e onde as coisas vão acontecer, quais das suas ações são adequadas e quais não são.

Um ambiente seguro e organizado não significa ausência total de riscos ou proteção completa contra falhas. Na verdade, expor urna criança gradativamente as situações que ela teme e às quais pode inicialmente resistir e confirmar para ela que nada de mal acontecerá é parte importante da construção da competência e da confiança.

Quando uma criança está se esforçando para aprender uma habilidade nova, é provável que algumas vezes não tenha êxito. É bom ajudá-la a aprender que não é sempre que se consegue. Isso faz parte da construção da confiança. A criança deve ser elogiada, abraçada e recompensada por seus esforços, parte fundamental de seu crescimento para se tornar um jovem mais persistente e independente.

 

Fonte: Conversa franca sobre autismo.



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