História de vida – Valéria AliprandiMinha primeira passagem pelo CVI-Rio foi ao realizar o curso “Compreendendo a Lesão Medular” – curso este que significou um divisor de águas nesta minha “nova versão”! Além de conhecer as primeiras pessoas com deficiência (como enfermeira, tive oportunidade de lidar com pessoas com vários tipos de deficiência, mas totalmente fora do contexto de Vida Independente), este curso me ajudou a começar a viver melhor como pessoa cadeirante! Nele, comecei a perceber a cadeira de rodas como continuação do meu corpo e dei início a um processo muito pessoal que batizei de “Desapego da Verticalidade”.
Nas vivências do curso, dentre inúmeros aprendizados valiosos, comecei a compreender meu “novo corpo”, através de outro prisma, não mais como pessoa que deve ser cuidada, segundo a vontade do outro – estigma que o cadeirante traz consigo – mas, entendi que a pessoa com LM pode assumir seu corpo, seus desejos, sua autonomia, mesmo que eventualmente, sempre ou quase sempre (a freqüência é o que menos importa!) a pessoa com LM precise das mãos de uma outra pessoa, na figura de um familiar, amigo ou assistente pessoal. Foi por aí que comecei a pensar de forma profunda em todo o processo histórico-social do Movimento de Vida Independente.
Nesta mesma época, no decorrer do curso, comecei a observar cadeiras de rodas com modelos diferentes da minha… Era uma “recém-nascida de LM” e, como disse, começava ali meu verdadeiro processo de entendimento sobre tudo que estava acontecendo comigo, e ali também, dei início ao meu fortalecimento para os desafios que viriam a se apresentar: um deles foi assumir que estava pessimamente sentada em uma cadeira onde “se enxergava primeiro a cadeira para depois enxergar a Valéria”! E foi assim, através do serviço de Adequação Postural que adquiri uma cadeira nova e linda, que me agradava, onde eu me sentia segura em vários sentidos, que voltei a me olhar de verdade no espelho! Pouco tempo depois, percebi que estar sentada adequadamente, no equipamento correto para o meu biotipo ia muito além da estética e autoestima. Os riscos de uma lesão postural secundária, de uma lesão de pele, de dores musculares e até mesmo neuropáticas diminuíram muito! Ou seja, me adequar na cadeira de rodas significou qualidade de vida!
Daí em diante, nunca perdi contato com o CVI-Rio, lá aprendi muito, fiz amigos e ganhei referências para diversos assuntos profissionais ou pessoais. Para mim, o CVI-Rio sempre foi muito além do que uma “instituição que presta serviços às pessoas com deficiência”, é um lugar de acolhimento, onde criei vínculos de confiança e pude recorrer em momentos de incertezas. Francas e agradáveis conversas, me ofereceram o amparo necessário, na medida necessária, no momento necessário. Este acolhimento encontrei e continuo encontrando no serviço de Suporte entre Pares, através da troca de experiências, aceitando e entendendo as diferenças e questões que “Ser uma Pessoa com Deficiência” pode nos apresentar.




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